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PMSUS - AULA INICIAL - 18/02/25

  • Foto do escritor: thikow
    thikow
  • 18 de fev.
  • 8 min de leitura

QUESTÕES SOBRE RELAÇÃO ENTRE A EPIDEMIOLOGIA E A PRÁTICA MÉDICA


1- Como os achados dos estudos epidemiológicos podem influenciar a tomada de decisões clínicas?


As pesquisas epidemiológicas oferecem suporte essencial para embasar decisões médicas, impactando diretrizes de diagnóstico, tratamento e prevenção. Elas possibilitam a identificação de fatores de risco, a análise da efetividade de intervenções médicas e o direcionamento de políticas de saúde pública. No âmbito clínico, essas investigações contribuem para a definição de práticas assistenciais fundamentadas em evidências, promovendo maior segurança.

Por exemplo, estudos conduzidos pelo Instituto Adolfo Lutz sobre HIV demonstraram como informações epidemiológicas auxiliam na orientação de diagnósticos laboratoriais e na tomada de decisões clínicas, reduzindo falhas e otimizando o uso de recursos na área da saúde.


Referências:

  1. Jorge Castejon M, Hernandes Granato CF, de Freitas Oliveira CA. Diagnóstico sorológico da infecção por HIV/aids no Brasil. Bepa [Internet]. 18º de outubro de 2022 [citado 16º de março de 2025];19:1-39. Disponível em: https://periodicos.saude.sp.gov.br/BEPA182/article/view/37710


  2. Barata RB, Barreto ML, Almeida Filho N, Veras RP, organizadores. Equidade e saúde: contribuições da epidemiologia. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 1997. 260 p. ISBN: 85-85676-34-5.



2- Como erros diagnósticos identificados em estudos epidemiológicos podem ser usados para aperfeiçoar a formação médica e os protocolos nos serviços de saúde?


Erros diagnósticos são um desafio comum na prática médica e estudos epidemiológicos têm sido fundamentais para identificá-los e mitigá-los. Uma análise de erros contribui para a melhoria de currículos médicos e protocolos de atendimento

Por exemplo, pesquisas sobre estratificação de risco cardiovascular em unidades básicas de saúde mostraram que a inconsistência de dados clínicos afeta diretamente as decisões médicas e pode resultar em tratamentos inadequados


Referências:

  1. Ramos FLP, Hora AL, Souza CTV, Pereira LO, Hora DL. As contribuições da epidemiologia social para a pesquisa clínica em doenças infecciosas. Rev Pan-Amaz Saude. 2016;7(esp):221-229. doi: 10.5123/S2176-62232016000500025.


  2. Fundato CT, Petrilli AS, Dias CG, Gutiérrez MGR. Itinerário terapêutico de adolescentes e adultos jovens com osteossarcoma. Rev Bras Cancerol. 2012;58(2):197-208.​



3- Quais desafios os médicos enfrentam ao tentar aplicar evidências epidemiológicas na prática clínica diária?


Os médicos enfrentam diversos obstáculos ao incorporar dados epidemiológicos no atendimento diário. Entre os principais desafios estão:


  1. Escassez de tempo para atualização científica


    A rotina intensa dos profissionais de saúde dificulta a leitura e análise crítica de novos estudos, tornando a incorporação de descobertas epidemiológicas um processo complexo e, muitas vezes, tardio.


  2. Dificuldade na adaptação de diretrizes


    Embora estudos epidemiológicos forneçam informações valiosas, eles são conduzidos em contextos específicos, com populações e infraestruturas distintas. Ajustar protocolos internacionais à realidade local pode exigir adaptações significativas, nem sempre fáceis de implementar.


  3. Resistência à mudança


    A adoção de novas práticas baseadas em evidências pode enfrentar resistência por parte de profissionais acostumados a protocolos tradicionais ou influenciados por experiências clínicas individuais. A implementação de diretrizes atualizadas exige estratégias eficazes de educação e sensibilização.


Exemplo:

Durante a pandemia de COVID-19, houve um esforço global para integrar evidências epidemiológicas às políticas públicas e práticas clínicas. No Brasil, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) analisou como o Ministério da Saúde utilizou dados científicos para embasar decisões emergenciais, incluindo medidas de isolamento social, vacinação e tratamento da doença. Esse período evidenciou tanto o potencial transformador da epidemiologia quanto as dificuldades em traduzir descobertas científicas em ações concretas no sistema de saúde.


Referências:

  1. Fernández M. Uso de evidências científicas para a tomada de decisão em saúde. IPEA; 2022. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/bits.


  2. Santos ED, Garrett DO. Avaliação do sistema de vigilância de hantavírus no Brasil. Epidemiol Serv Saúde. 2005. Disponível em: [Acesse o artigo].



4- Como a epidemiologia pode contribuir para a medicina preventiva e promoção da saúde?


A epidemiologia desempenha um papel fundamental na prevenção de doenças e na promoção da saúde, fornecendo bases científicas para a implementação de estratégias eficazes. Entre suas principais contribuições, destacam-se:


  1. Identificação precoce e prevenção de doenças


    Ao analisar padrões de incidência e prevalência, a epidemiologia possibilita a adoção de medidas preventivas direcionadas. Estudos indicam que ações como vacinação em larga escala e incentivo a hábitos saudáveis são eficazes na redução de doenças transmissíveis e crônicas.


  2. Promoção da saúde fundamentada em evidências


    A aplicação de dados epidemiológicos orienta campanhas de conscientização sobre alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos e combate ao tabagismo, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população.


  3. Apoio à formulação de políticas públicas


    As informações epidemiológicas embasam políticas de promoção da saúde, como a Política Nacional de Promoção da Saúde, que inclui iniciativas voltadas à prevenção de doenças crônicas e ao fortalecimento da atenção primária.


  4. Redução das desigualdades em saúde


    Estudos epidemiológicos permitem identificar diferenças no acesso e na qualidade dos serviços de saúde entre distintos grupos populacionais, possibilitando a criação de políticas que visam reduzir essas disparidades e garantir equidade no atendimento.


  5. Monitoramento e avaliação de programas de saúde


    A epidemiologia é essencial para medir a efetividade de intervenções e programas de saúde pública, assegurando que estratégias inovadoras sejam continuamente ajustadas para maximizar seus benefícios.


Referências:

  1. Barata RB, Barreto ML, Almeida Filho N, Veras RP, organizadores. Equidade e saúde: contribuições da epidemiologia [Internet]. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 1997. 260 p. (Série EpidemioLógica, nº1). ISBN: 85-85676-34-5. Disponível em: http://books.scielo.org.


  2. Goulart FA de A. Cenários epidemiológicos, demográficos e institucionais para os modelos de atenção à saúde. Inf Epidemiol SUS [Internet]. 1999;8(2):17-26. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5123/S0104-16731999000200003.


  3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação da Saúde. Anais do I Seminário sobre a Política Nacional de Promoção da Saúde [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2009. 252 p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br.



QUESTÕES GERAIS SOBRE EPIDEMIOLOGIA


1- Qual a importância dos estudos epidemiológicos para a compreensão das doenças?


Os estudos epidemiológicos são essenciais para entender como as doenças surgem, se espalham e podem ser controladas. Eles ajudam a identificar os fatores de risco e as causas das doenças, o que é fundamental para a criação de estratégias de prevenção e tratamento em saúde pública.

Existem diferentes tipos de estudos epidemiológicos, como os transversais, os de caso-controle e os de coorte. Os transversais ajudam a medir a prevalência de uma doença em um determinado momento, enquanto os de caso-controle são usados para investigar ligações entre fatores de risco e doenças raras. Já os de coorte são ideais para analisar a incidência de doenças ao longo do tempo e a relação entre exposição e desfecho.

A epidemiologia também é essencial para formular hipóteses sobre as causas das doenças e testar a eficácia de intervenções através de ensaios clínicos e estudos experimentais. Além disso, avanços tecnológicos como a genômica e a metabolômica têm aprimorado as técnicas de medição, permitindo uma compreensão mais aprofundada das interações entre o organismo, os agentes causadores de doenças e o ambiente.


Referências:

  1. Pérez-Guerrero EE, Guillén-Medina MR, Márquez-Sandoval F, Vera-Cruz JM, Gallegos-Arreola MP, Rico-Méndez MA, Aguilar-Velázquez JA, Gutiérrez-Hurtado IA. Considerações metodológicas e estatísticas para estudos transversais, de caso-controle e de coorte. J Clin Med. 2024 Jul 9;13(14):4005. doi: 10.3390/jcm13144005. PMID: 39064045; PMCID: PMC11277135.


  2. Kuller LH. Epidemiologia: antes e agora. Am J Epidemiol. 2016 Mar 1;183(5):372-80. doi: 10.1093/aje/kwv158. Epub 2015 Oct 21. PMID: 26493266.



2- Como a epidemiologia contribui para a formulação de políticas públicas em saúde?


A epidemiologia é uma ferramenta fundamental na definição de políticas públicas de saúde, pois fornece dados científicos que ajudam na tomada de decisões. Ela permite analisar a relação entre fatores de risco e doenças, o que é essencial para embasar medidas preventivas e intervenções.

Além disso, a epidemiologia auxilia na identificação de desigualdades em saúde e na compreensão de como diferentes níveis de governança influenciam as políticas de saúde. Isso ajuda a avaliar a implementação de medidas e a responsabilização pelos resultados obtidos, tornando as intervenções mais eficazes.

A comunicação entre pesquisadores e tomadores de decisão é essencial para transformar esses dados em ações concretas. Comitês de especialistas podem facilitar essa interação e garantir que as políticas públicas se baseiem em evidências sólidas, garantindo maior impacto na saúde da população.


Referência

  1. Kim D. Reduzindo a distância entre epidemiologia e política: uma estrutura consequente e baseada em evidências para melhorar a saúde da população. Prev Med. 2019 Dec;129:105781. doi: 10.1016/j.ypmed.2019.105781. Epub 2019 Jul 19. PMID: 31330155.


  2. Bowman S, Unwin N, Critchley J, Capewell S, Husseini A, Maziak W, Zaman S, Ben Romdhane H, Fouad F, Philimore P, Unal B, Khatib R, Shoaibi A, Ahmad B. Uso de evidências para apoiar políticas públicas saudáveis: um ciclo de eficácia-viabilidade de políticas. Bull World Health Organ. 2012 Nov 1;90(11):847-53. doi: 10.2471/BLT.12.104968. Epub 2012 Sep 14. PMID: 23226897; PMCID: PMC3506406.


  3. Savitz DA. Melhorando o impacto da epidemiologia na política: mediação por comitês de especialistas. Am J Epidemiol.2023 Aug 4;192(8):1243-1248. doi: 10.1093/aje/kwad078. PMID: 37005087.




3- Quais fatores devem ser considerados ao interpretar os achados de um estudo epidemiológico?



  1. Validade interna


Refere-se à precisão dos resultados dentro do próprio estudo, evitando erros e vieses.


Considere:

  • Viés de seleção: A amostra representa corretamente a população estudada?

  • Viés de informação: Os dados foram coletados e medidos de forma adequada?

  • Erro de aferição: As variáveis foram mensuradas corretamente?

  • Possíveis fatores de confusão: Há outras variáveis influenciando os resultados?


Exemplo: Em um estudo sobre tabagismo e câncer de pulmão, é essencial considerar fatores como exposição à poluição ou predisposição genética.



  1. Validade externa (generalização dos resultados)


Avalia se os achados podem ser aplicados a outras populações:


Considere:

  • Amostra do estudo: Os participantes refletem a população geral?

  • Contexto epidemiológico: Fatores sociais, culturais e econômicos afetam os resultados?

  • Reprodutibilidade: O estudo pode ser replicado com resultados similares?


Exemplo: Um estudo sobre obesidade realizado em uma cidade pode não ser válido para populações rurais com hábitos alimentares distintos.



  1. Associação x Causalidade


Nem toda associação significa relação de causa e efeito. Para avaliar a causalidade, os Critérios de Bradford Hill são utilizados:


  • Força da associação → Quanto maior a relação, maior a chance de causalidade. Consistência → Outros estudos obtiveram os mesmos resultados?

  • Temporalidade → A exposição aconteceu antes do desfecho?

  • Gradiente biológico → Maior exposição leva a maior risco?

  • Plausibilidade biológica → Existe um mecanismo que justifica a relação?

  • Coerência com outras evidências → Os achados fazem sentido com o que já se sabe?


Exemplo: Inicialmente, o consumo de café foi ligado ao câncer de pâncreas, mas estudos posteriores mostraram que o verdadeiro fator de risco era o tabagismo, comum entre os consumidores de café.



  1. Poder estatístico e precisão


A interpretação estatística é essencial para validar os achados.


Considere:

  • Tamanho da amostra: O estudo tem participantes suficientes?

  • Intervalo de confiança: Mede a margem de erro dos resultados.

  • Valor de p: Mede a probabilidade dos achados ocorrerem ao acaso (p < 0,05 indica relevância estatística).

  • Análises ajustadas: Foram considerados fatores de confusão?


Exemplo: Um estudo pequeno pode indicar que uma dieta reduz a mortalidade, mas sem evidência estatística sólida.



  1. Viés de publicação e conflitos de interesse


Ocorre quando apenas estudos com resultados positivos são publicados.


Considere:

  • O estudo foi financiado por entidades com interesses no resultado?

  • Os pesquisadores mencionaram estudos com resultados diferentes?


Exemplo: Por anos, estudos financiados pela indústria do açúcar minimizaram seus impactos na saúde cardiovascular, focando na gordura como vilã.



Referências:

  1. Minayo MCS, Miranda AC, editores. Saúde e ambiente sustentável: estreitando nós [Internet]. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2002. 344 p. Disponível em: http://books.scielo.org. ISBN: 978-85-7541-366-1.


  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Diretrizes metodológicas: Sistema GRADE – Manual de graduação da qualidade da evidência e força de recomendação para tomada de decisão em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. 72 p. ISBN: 978-85-334-2186-8. Disponível em: www.saude.gov.br/bvs.



Reflexão: A aula de hoje foi esclarecedora e nos ajudou a relembrar as lições aprendidas no ano passado. Foram deixadas algumas questões para responder em casa, as quais foram incluídas aqui. Ainda não começamos a UBS e teremos mais informações mais pra frente.




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